A percepção dos jovens acerca da política brasileira
Por mais ética, democracia e educação: Uma pesquisa sobre a percepção dos jovens acerca da política brasileira
Vinicius Ribeiro Artigos 5966 views 5 min. de leitura
Realizamos uma pesquisa no ambiente do ciberespaço para apurar a percepção dos jovens a respeito da política brasileira. Abordamos questões centrais que pautam o debate atual sobre política no Brasil de uma forma colaborativa, proporcionando uma abertura ampla a respostas diversas. Através da aplicação do questionário, pudemos conhecer um pouco mais sobre as críticas de nossos jovens ao presente da política brasileira e sobre alguns de seus maiores sonhos para o futuro do país.
O anseio por um Brasil mais ético, em que os valores predominantes na política sejam os da honestidade, da verdade e da coerência, foi a tônica principal. Além disso, para nossos jovens, a educação deve ser a prioridade principal e a democracia é o regime político a ser resguardado. A seguir, analisaremos os dados coletados e os compartilharemos com os cidadãos, comentando possíveis conexões entre as perguntas e respostas que resultaram da aplicação da pesquisa.
Uma das principais preocupações dos brasileiros, de acordo com pesquisas recentes, tem sido o mal da corrupção. Dentre todas as formas de corrupção, a que mais ocupa lugar nas discussões cotidianas e nos noticiários é, sem dúvida, aquela que se manifesta na gestão pública. As operações investigativas realizadas em conjunto pelo Ministério Público e pela Polícia Federal nos últimos anos têm revelado esquemas bilionários de desvio de verbas públicas, envolvendo políticos dos cenários nacional, estadual e municipal de Norte a Sul do país e de dezenas de partidos políticos.
Perguntados sobre se votariam em um candidato que “rouba, mas faz”, em referência à candidatura a um cargo eletivo por um político com antecedentes de corrupção, e que conta com alguma aceitação popular pelos bons feitos públicos anteriores que tenha realizado, 89% de nossos jovens responderam que NÃO. Essa foi a pergunta, entre todas, com o maior índice de respostas para uma alternativa – no caso, negativa. Não é surpresa que haja uma grande rejeição a candidatos com histórico de corrupção, mesmo que tenham em algum momento “feito muito” em favor da população. O desejo dos jovens é, portanto, o de somente votar em candidatos “ficha limpa”.
Isso se reflete na procura de candidatos para votar em 2018. Perguntados sobre o que esperam de um candidato para essas eleições, as respostas predominantes envolveram termos como honestidade, coerência e verdade, entre outros, como: cumprimento dos deveres, caráter, valorização das liberdades individuais, transparência, dignidade, etc. É clara a busca por representantes que apresentem histórico de integridade e de não-envolvimento com escândalos de corrupção, além do requerimento de que sejam candidatos que levantem a bandeira de valores éticos como os acima mencionados.
De modo bastante interessante, a corrupção não foi considerada como o problema que mais preocupa os jovens entrevistados, embora tenha sido citada por 33,6% deles (o que não é, de forma alguma, um aspecto a se desconsiderar). Uma parcela de 41,8% dos jovens mencionou a educação como o problema principal que nesse contexto lhes ocupa a preocupação. Independentemente de a educação ser considerada a priori uma forma de combate à corrupção ou não, a menção por si mesma retoma uma reivindicação dos protestos de junho de 2013, quando milhares de estudantes ocuparam as ruas em protestos, pedindo maiores investimentos estatais justamente em educação e outras áreas sociais. A segurança aparece ainda como uma preocupação considerável, com 10,3% das citações.
A pesquisa também revelou que a juventude valoriza e deseja que a democracia brasileira seja consolidada, a despeito dos problemas da corrupção e da desvalorização da educação: 61% dos jovens responderam NÃO quando foram instados a dizer se achavam que o país estaria melhor se não houvesse partidos políticos. Ou seja, existe uma consciência de que os partidos são necessários, pois, conforme a maioria das respostas, as práticas e as pessoas que compõem os partidos é que estão erradas. A existência dos partidos, todavia, é importante porque eles representam a ideologia das partes da população e podem elaborar respostas para os problemas da sociedade. Entre algumas justificativas às respostas contrárias à importância dos partidos políticos, estão a sua caracterização como instituições essencialmente corruptas e que restringem as liberdades individuais.
O ambiente democrático em que nasceram esses jovens, desde a década de 1980, tem sido propício para a ocorrência de debates sobre política nos círculos que frequentam, especialmente o familiar. Durante as refeições e encontros de família, 81,5% costumam conversar sobre política. Nos últimos 10 anos, em que esse ambiente democrático prosseguiu, 71,2% consideram que melhoraram de vida, apontando para um momento da história brasileira em que houve progresso e ganhos pessoais e societários, ao invés de retrocessos. Apesar do cenário favorável quando se fala em democracia, 30,1% afirmaram que o emprego é algo que está ruim/péssimo e que teria de ser mudado, o que torna visível a incapacidade da democracia brasileira em lidar com problemas estruturais mais urgentes, como o emprego. Outros aspectos bastante citados remetem aos temas da educação e da saúde, tão elementares quanto o emprego para a consolidação democrática.
Em que pese a valorização da democracia e da importância dos partidos políticos, cujo foco estaria direcionado para a corrupção e não para o bem público, necessitando o sistema político-partidário de reformas nesse sentido, uma porção de 74,7% dos jovens entrevistados não seguem nenhuma legenda partidária, exatamente porque não se veem representados pelo sistema partidário atual. E, colocando-se como eleitores, 65,1% desses entrevistados acredita que pode mudar o país através do voto. É um número que revela pouco quando não é visto em contraste com seu oposto, os 34,9% que não acreditam na mudança do país pelo voto. Certamente, esta última é uma parcela muito alta, tendo em vista a confiança na importância da democracia anteriormente citada. Ela revela um grande desânimo diante da impotência do eleitor em mudar o sistema político e partidário, sem que antes se passe pelas suas próprias vias institucionais já corrompidas. O jovem eleitor brasileiro está acorrentado diante da ausência de ações possíveis. É como se, no jogo de xadrez, estivesse com todos os movimentos limitados e na iminência de perder o rei e a partida.
* Colaborou com a construção deste artigo o sociólogo Taylor Aguiar.