Como resolver o problema da educação no Brasil?
12 sugestões que podem contribuir para melhorar a educação no Brasil
Vinicius Ribeiro Artigos 54694 views 8 min. de leitura
Como resolver o problema da educação no Brasil?
É muita pretensão responder essa pergunta em um texto. Porém divido abordagens que recebo seguidamente de colegas professores, gestores públicos e especialistas na área. Os tópicos a seguir unificam diversos aspectos e resumem as contribuições na área da educação.
1. Respeitar o patrimônio da Família e do Professor
A gente aprende depois de uma certa idade que as primeiras lições estão em casa. Quem nos educa passa a ser nossos referenciais, nossos exemplos. No meu caso, meus pais.
O princípio da solução do problema da educação está em casa. Família desestruturada = sociedade desestruturada. Me desprendo da concepção que convivi de pai (masculino) e mãe (feminino) – não quero entrar na seara de gênero, tampouco na formação tradicional de família, por que conheço casos de crianças educadas pelos avós, pelos tios, pelos vizinhos, pelos pais adotivos, por albergues, enfim, por alguém que as ama. Logo, independente da forma como a família é estruturada, o primeiro aprendizado de como somos educados está realmente dentro de casa.
A primeira lição aqui é: pais educam, escola forma. O nível de conhecimento e aprendizagem, a escola oferece. Na verdade, a primeira lição que tive não veio de um professor, veio dos meus pais na época: “- Vini, respeita o professor!”. Com essa base, construí um relacionamento de respeito e de muito aprendizado.
2. A educação formal atualizada e dinâmica
Leciono na faculdade e vejo que cada aula é uma aula. O planejamento da disciplina e a metodologia de abordagem do conteúdo são fundamentais. Nem sempre conseguimos colocá-lo da forma que abordamos por não sabermos o nível de absorção pelos alunos. Se a reação dos adultos é imprevisível, imagina dos adolescentes. Isso é muito dinâmico.
Atualizar o ensino é estar aberto as mudanças. Quem não muda de ideia, nunca muda nada. Há uma necessidade de repensar o ambiente escolar e educacional da mesma forma que precisamos atualizar a metodologia de ensino.
O acesso ao conhecimento e a busca pela informação através da internet mudaram o comportamento do aluno em sala de aula.
3. Garantir infraestrutura básica para atendimento dos alunos
Parece óbvio, mas é fácil entender que alguém se sente bem onde o ambiente é bom. Pode ser simples, mas precisa estar agradável, limpo e bem apresentável. Há escolas que exigem reformas básicas. A grama, o piso, a parede, o parque, a quadra, a sala de aula são elementos escolares que precisam ter cuidados também.
4. Valorizar o professor e implementar a meritocracia ao docente
Há muitos professores dedicados. O profissional da educação deve ser valorizado, não somente pelo conhecimento que ele tem ou pelo aperfeiçoamento que ele busca, mas também pelos resultados que o mesmo proporciona ao ambiente escolar. A meritocracia não é uma palavra ideológica, mas um conceito amplo que exige ser discutido e implementado em nossa rede educacional pública e privada.
5. Implementar eleição direta para diretor – como formação mínima
Cerca de 42% das secretarias estaduais adotam a indicação política para os cargos de diretor de escolas públicas. Essa prática não respeita a autonomia das escolas, tampouco a sua realidade local. Porém é importante reforçar que o poder público deve oferecer cursos práticos de gestão pública, administração, legislação básica que o cargo exige. Um professor ou professora não deveria assumir um cargo sem um conhecimento mínimo desta responsabilidade. O diretor é o braço do prefeito ou do governador na escola.
6. Autonomia administrativa e financeira
Quanto mais autonomia as escolas têm, menos burocrática a educação fica. Quanto menos a escola depender das decisões da secretaria de educação, melhor será para a escola e para a secretaria. Cabe a secretaria fiscalizar os recursos e orientar a manutenção das diretrizes de ensino.
7. Ampliar educação técnica e profissional
Nosso país conta com 1,3 milhões de estudantes cursando aulas de ensino técnico, cerca de 6,6%. Já, no ensino superior nas universidades e faculdades são 6,6 milhões. Se compararmos com a Alemanha, dos jovens de 15 a 19 anos, mais de 50% deles têm aulas de ensino profissionalizante com a educação regular.
8. Escola é lugar de aprendizagem integral
O Brasil tem pouco mais de 32 mil das 156 mil escolas brasileiras com ensino integral em algum grau. Esse dado é desastroso. Não há como evoluir no ensino e no aprendizado sem aumentar as horas - aulas e a permanência do aluno no ambiente educacional, inclusive no contraturno, que é uma extensão do aprendizado do aluno.
O Plano Nacional de Educação (PNE), em vigência desde 2014, estabelece em sua Meta 6 que no mínimo 50% das escolas públicas devem oferecer educação em tempo integral até 2024. Para ser considerada uma escola em tempo integral, ela deve ter pelo menos um dos seus alunos em jornada média diária de 7(sete) horas. Cabe destacar, no entanto, que o conceito de Educação Integral pressupõe a organização de atividades com base em um projeto pedagógico e não apenas o cumprimento da carga horária. Essa dimensão não é captada pelo indicador apresentado. A criação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que abarca a formação integral dos alunos, reforça a importância desse indicador, elaborado pelo Todos Pela Educação a partir dos Microdados do Censo Escolar de 2014, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC), para o monitoramento da meta. (Fonte: Observatório do PNE)
9. A capacitação dos professores é fundamental
A capacitação é um nível de formação continuada. Atualizar-se é essencial !
Não vejo interesse dos gestores da educação para este tema. O estudo "Formação Continuada de Professores no Brasil", realizado em parceria com o Instituto Ayrton Senna e o Boston Consulting Group, diagnosticou que capacitar os professores é a opção mais viável para melhorar o desempenho dos alunos. O estudo apresenta dados que desafiam a formação continuada de docentes no País. Os índices indicam que estudantes expostos a bons professores aprendem de 47% a 70% a mais do que aprenderiam em média em um ano escolar. (Fonte: Ministério da Educação)
10. Acompanhamento dos pais (responsáveis) no desempenho dos seus filhos (jovens)
Não se terceiriza educação. Os professores não substituem o papel dos pais, podem auxiliá-los. O interesse pela evolução do conhecimento dos filhos é um fator que contribui para que o filho goste de estudar. Se não existe o interesse dos pais ou responsáveis em acompanhar o conhecimento dos filhos(as), imagine com qual percepção este jovem ficará sobre a importância de estudar.
Quando um jovem é ouvido, apoiado e prestigiado, ele se sente mais estimulado e consequentemente suas relações de amizade e de relacionamento melhoram.
11. Inserir a parceria da iniciativa privada, ONGs e entidades na vida escolar
A parceria da iniciativa privada e do terceiro setor é uma forma de colocar em prática o ensino e a aprendizagem.
Para cada aluno do ensino superior, o Brasil gasta hoje 11,7 mil dólares anualmente, próximo aos 13,7 mil da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quando se chega ao ensino básico, no entanto, é que a situação fica ruim: os 2,4 mil dólares anuais são três vezes menos do que esses países investem (7,7 mil dólares).
Construir parcerias é otimizar recursos, evitar retrabalho e proporcionar que o setor público fiscalize e seja fiscalizado.
12. Respeitar metas e medir desempenhos
O Plano Nacional de Educação (PNE) é uma lei ordinária com vigência de 10(dez) anos a partir de 26/06/2014, prevista no artigo 214 da Constituição Federal. Ele estabelece diretrizes, metas e estratégias de concretização no campo da Educação. Municípios e unidades da federação devem ter seus planos de Educação aprovados em consonância com o PNE. (Fonte: LEI Nº 13.005, DE 25 DE JUNHO DE 2014)
Se em nível nacional existem metas, por que não há em nível local?
E você ? Tem alguma sugestão ?
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*O artigo desta semana foi inspirado no depoimento de um jovem estudante que para estudar precisa trabalhar. João Henrique Dessanti, de 21 anos, compreendeu que a cidadania que a sociedade exige, precisa ser alcançada além da educação formal das escolas.
"De verdade mesmo, nada me deixa tão inseguro quanto olhar para o futuro do meu país e não me ver como uma pessoa de sucesso. Eu vivo na camada do descaso, eu sou jovem e infelizmente tudo de ruim praticado na sociedade me atinge.
Eu abro os noticiários e vejo aquela chuva de desinformação gerada pelas mídias corrompidas pelo poder político. Chego na minha escola e infelizmente meu professor não foi dar aula porque seu salário está atrasado ou perdemos o dia por conta do luto de um colega que faleceu vítima da violência.
Aprendi na aula de Geografia da semana passada sobre regimes políticos e vi que meu país adota um sistema muito defasado; infelizmente a gente vive em uma monarquia, onde os vassalos (atual classe abaixo dos políticos) trabalham assiduamente dia após dia, para enriquecer os monarcas e os suseranos. Infelizmente a classe operária não gosta de ver seus patrões de barriga vazia e o sangue dos mesmos servem de graxa para as engrenagens de suas multinacionais campeãs em sonegação fiscal.
Desde 2013, venho observando o “show” de horrores que é a política, onde para cada 10 escândalos apresentados a respeito da mídia, 9 são engavetados pela mesma. Aqueles poucos milhões de reais desviados pelo Sr. Senador que não ia dar em nada, matou de fome o José, jovem, morador do Maranhão.
A gente está acostumado a ser apresentado a sucessos relâmpagos pela TV, talvez deva ser esse o motivo da nossa amnésia, motivo que faz a gente a cada 4 anos, se deixar cair no papo persuasivo dos senhores de gravata e gel no cabelo.
Amanhã?
Sei lá.
Essa é a resposta de quem não já não aposta em mudança e faz o que pode, porém, virou as costas para a esperança."
João Henrique Dessanti