O declínio do homem público
Todos nós somos homens públicos (mulheres e homens que convivem com o espaço público e/ou coletivo).
Vinicius Ribeiro Artigos 2968 views 5 min. de leitura
Todos nós somos homens públicos (mulheres e homens que convivem com o espaço público e/ou coletivo). A convivência do ser humano público no século XVIII se deu especificamente nos cafés e no teatro. Os cafés foram o primeiro ponto de reunião social da família. Não é por nada que há, ainda hoje em função do projeto arquitetônico, diversos nichos dentro dos estabelecimentos, para o encontro de pequenos grupos. O segundo, dá a referência de como foi a forma, através da arte e do palco, de conhecermos o outro e as suas atitudes na sociedade a época. O teatro foi a forma mais educadora e critica realista já conhecida.
Dos cafés para o teatro. Do teatro para os clubes recreativos. Impulsionado pela classe burguesa, estes traduziram o comportamento público do século XX. Eram nos clubes recreativos que as famílias se identificavam publicamente. A identificação foi tanta, que os clubes representavam os comportamentos das classes sociais e aos que estivessem fora, fundavam as suas, as vezes por sua representação: sindicato, agremiação, clubes esportivo e etc.
O que falta nos darmos conta, é que o ponto de encontro do “homem público” no século XXI passou a ser o espaço público, ou seja, a rua. A briga ou a discussão por este espaço é a mesma briga e discussão da falta de identificação do cidadão com este espaço. A luta não é mais de classes, a luta é pelo espaço público. Vejam como a sociedade de nossa cidade discute o centro, discute transporte coletivo, discute as obras públicas e/ou discute a ocupação do espaço. O declínio do espaço público é o mesmo declínio do “homem público”, que por um lado pede reforma e por outro lado não renuncia. O centro da cidade vive assim: na contradição do comportamento do cidadão e no avanço da política da personalidade, cada qual com a sua verdade.
Precisamos mudar esse comportamento do chamado homem público. Recentemente tivemos eleição e ficou claro a mudança que o cidadão deseja. Do modo geral, mudamos o Brasil, o nosso estado. Algumas mudanças são de personagens e não de projetos. Outras, são de ambos. O que nos interessa saber é se “Eu” estou disposto a acompanhar essas mudanças. Mudar se inserindo nela é diferente de muda-la sem “Eu” inserido.
Aqui não se trata de ideologia ou partidarismo, mas sim da reflexão sobre o homem público e do nosso relacionamento com o espaço público que ele é inserido.
O cotidiano é um ótimo exemplo. Veja esses exemplos que vivenciei no período eleitoral:
Devagarinho passando em frente a uma escola, recebi sinal de um motorista, do outro lado da rua para eu acelerar, pois ele queria, rapidamente, entrar na escola. Fiquei pensando: para ele entrar preciso acelerar, mas para a segurança do filho dele, preciso ir devagar. Ele pensou nele ou no filho dele?
Por outro lado, observe a reação em mesma situação.
Já presenciei a angustia de uma família querendo sair de casa com pressa sendo impedida por um carro estacionado na saída da sua garagem. A família ligou rapidamente à fiscalização de trânsito. A mãe ficou braba com a mesma por não ter chegado nos primeiros minutos. Algumas quadras dali o marido reclamava pela multa que recebeu por ter deixado o carro por alguns minutinhos na saída da garagem de um estabelecimento comercial.
Por fim, não quero crer que a famosa frase de Margaret Thatcher está correta: “Não existe esta coisa chamada sociedade; existem apenas homens e mulheres individuais e suas famílias”
O declínio do homem público é o termômetro da extinção da chamada sociedade, cada um pensando em si agindo conforme seu interesse.